Receber o diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) em um filho é como abrir uma porta para um novo mundo. De um lado, vem o alívio por finalmente entender o porquê de tantos comportamentos que pareciam sem explicação. Do outro, aparece o medo, a insegurança, e muitas dúvidas sobre o que fazer a partir dali.
Essa mistura de sentimentos é absolutamente normal. E é nesse momento que a escuta, a informação e o acolhimento fazem toda a diferença.
O psiquiatra infantil Dr. Bruno, com anos de experiência acompanhando crianças com TDAH e suas famílias, explica que o diagnóstico não deve ser visto como um fim, mas como um ponto de partida. “Não estamos falando de uma sentença, mas de um convite para entender melhor aquela criança e encontrar as ferramentas certas para que ela se desenvolva com mais leveza.”
O que o diagnóstico realmente significa?
TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta a atenção, o controle dos impulsos e o nível de atividade da criança. Ele não define quem a criança é, mas ajuda a compreender melhor como ela pensa, sente e reage ao mundo.
Muitas vezes, o diagnóstico vem após uma longa jornada de frustrações escolares, conflitos em casa ou dificuldade em relações sociais. Identificar o TDAH pode ser o primeiro passo para quebrar esse ciclo e oferecer um caminho de mais compreensão e cuidado.
Reações comuns dos pais
Cada família reage de um jeito. Alguns pais se sentem culpados, achando que fizeram algo errado. Outros negam o diagnóstico por medo do estigma. Há também aqueles que se sentem sobrecarregados diante da nova responsabilidade.
Dr. Bruno lembra que não existe uma forma certa de reagir. “O importante é que os pais se permitam sentir, conversar, fazer perguntas. Nenhuma mãe ou pai precisa dar conta de tudo sozinho.”
O papel dos pais no tratamento
Depois do diagnóstico, vem o momento de organizar os próximos passos. O tratamento do TDAH não é padronizado, e isso é uma boa notícia: ele pode (e deve) ser adaptado à realidade e à rotina de cada família.
Entre as abordagens estão:
- Acompanhamento com profissionais de saúde (psiquiatra, psicólogo, terapeuta ocupacional);
- Mudanças na rotina e na organização do dia a dia;
- Adaptações escolares;
- Apoio com medicação, quando indicado.
Mais do que seguir uma lista de tarefas, o mais importante é estar presente, observar, acolher e construir o caminho junto com a criança.
O impacto emocional nos pais
Lidar com o TDAH às vezes é exaustivo. Não pela criança em si, mas porque o mundo ao redor nem sempre compreende. Há cobranças de comportamento “padrão”, expectativas escolares engessadas, críticas de parentes ou educadores. Tudo isso recai sobre os ombros da família.
Dr. Bruno sempre orienta os pais a cuidarem também de si mesmos. “Se o adulto está emocionalmente bem, consegue ser um porto seguro para a criança. Buscar apoio para os pais também faz parte do tratamento.”
Conversando com a criança sobre o TDAH
Muitas famílias ficam em dúvida sobre quando e como contar à criança sobre o diagnóstico. A resposta vai depender da idade, do grau de compreensão e do momento que está vivendo.
Mas, em geral, a transparência é sempre melhor do que o silêncio. Explicar com palavras simples que o TDAH não é uma “doença”, mas uma forma diferente de funcionar, pode ajudar a criança a se conhecer melhor e a se sentir menos sozinha.
O mais importante é deixar claro que ela não é o problema, que ter TDAH não faz dela menos inteligente, menos capaz ou menos querida.
Fortalecendo o vínculo familiar
Compreender o TDAH não significa abrir mão de limites, mas sim redefinir expectativas e ajustar a forma de educar. Quando os pais aprendem a reconhecer os gatilhos, a organizar melhor os ambientes e a se comunicar com mais empatia, tudo muda.
Dr. Bruno conta que muitas famílias redescobrem o prazer de estar juntas quando param de olhar só para o que falta e passam a valorizar o que está florescendo. “Crianças com TDAH têm energia, criatividade, sensibilidade. Quando acolhemos essas características, elas brilham.”
Rede de apoio: você não está sozinho
Buscar informação, conversar com outros pais, participar de grupos de apoio ou acompanhar conteúdos de qualidade sobre TDAH pode ser um alívio. Saber que outras famílias estão passando por situações parecidas traz força, coragem e pertencimento.
Existem também redes de profissionais, projetos sociais, grupos escolares e iniciativas locais que oferecem apoio para famílias. Muitas vezes, o simples fato de ser escutado por alguém que entende já muda tudo.
O caminho se faz aos poucos
Lidar com o TDAH em um filho é um processo. Haverá dias bons, dias cansativos, momentos de dúvida e também muitas conquistas. O mais importante é lembrar que você não precisa saber tudo de uma vez. O amor, a disposição para aprender e a escuta atenta são os maiores aliados nessa jornada.
Com acolhimento, informação e apoio, é possível construir um caminho mais leve, onde a criança possa crescer com segurança e autoestima, e onde os pais se sintam confiantes para seguir em frente, um passo de cada vez.