Por muito tempo, o autismo foi visto como uma condição que afetava mais meninos do que meninas. Essa visão fez com que muitas mulheres crescessem sem entender por que se sentiam diferentes, lidando com desafios invisíveis e sem o suporte adequado. O Dr. Bruno, especialista em saúde mental, traz uma reflexão essencial sobre por que tantas mulheres só recebem o diagnóstico na fase adulta e como isso impacta suas vidas.

Autismo em Mulheres

A maneira como o autismo se manifesta em meninas e mulheres pode ser bem diferente daquilo que se observa em meninos. Enquanto os garotos costumam apresentar sinais mais óbvios, como dificuldades sociais evidentes e interesses extremamente focados, as meninas geralmente desenvolvem mecanismos para disfarçar suas dificuldades. Esse fenômeno é conhecido como camuflagem social.

Desde cedo, muitas mulheres autistas aprendem a observar e imitar comportamentos considerados “aceitáveis”, suprimindo suas dificuldades para se encaixar em grupos e atender expectativas. O problema é que essa adaptação tem um custo emocional alto, levando muitas a desenvolver ansiedade, depressão e um intenso sentimento de esgotamento ao longo da vida.

Sinais de Autismo em Mulheres

• Sensibilidade extrema a barulhos, cheiros e texturas;
• Dificuldade em entender regras sociais implícitas;
• Esforço excessivo para parecer “normal” em interações sociais;
• Preferência por rotinas bem estruturadas e desconforto com mudanças;
• Hiperfoco em interesses específicos, muitas vezes considerados “comuns”;
• Sensação de estar sempre um passo atrás dos outros.

O Peso de Anos sem Diagnóstico

Receber um diagnóstico de autismo na fase adulta pode ser libertador, mas também pode trazer um sentimento de luto pelo tempo perdido. Muitas mulheres passam a vida achando que suas dificuldades eram apenas características pessoais, acumulando frustrações e tentando se encaixar em padrões que não fazem sentido para elas.

Impactos do Diagnóstico Tardio

• Dificuldades acadêmicas e profissionais por falta de suporte adequado;
• Relacionamentos desgastantes devido à dificuldade de interpretar sinais sociais;
• Esgotamento emocional causado pelo esforço constante para se adaptar;
• Alta incidência de ansiedade, depressão e crises de burnout.

Por Que a Medicina Demorou Tanto Para Olhar Para Elas?

O diagnóstico tardio do autismo feminino não é coincidência. Existem algumas razões pelas quais tantas mulheres só descobrem sua neurodivergência depois de adultas:

1. Critérios de Diagnóstico Baseados em Homens

Por décadas, o autismo foi estudado majoritariamente em meninos. Isso fez com que muitos sinais mais sutis ou diferentes nas mulheres passassem despercebidos.

2. Pressão Social Para Ser “Normal”

As meninas são frequentemente incentivadas a serem sociáveis e a demonstrar empatia. Isso faz com que muitas desenvolvam habilidades para mascarar seus desafios, atrasando o diagnóstico.

3. Profissionais Pouco Preparados Para Identificar o Autismo Feminino

Mesmo com os avanços da ciência, muitos médicos e psicólogos ainda não estão familiarizados com as particularidades do autismo em mulheres, resultando em diagnósticos errados ou atrasados.

4. Diagnósticos Errados

Em vez de autismo, muitas mulheres recebem diagnósticos como transtorno de ansiedade, depressão ou Transtorno de Personalidade Borderline, sem que se perceba a raiz real das dificuldades.

E Agora? O Que Muda Após o Diagnóstico?

Descobrir-se autista na vida adulta pode trazer um turbilhão de emoções, mas também abre portas para uma nova forma de enxergar a própria história. Com essa nova perspectiva, vem a possibilidade de buscar estratégias mais eficazes para viver com mais equilíbrio e autenticidade.

Benefícios do Diagnóstico Tardio

• Maior compreensão das próprias necessidades e limites;
• Possibilidade de buscar suporte psicológico adequado;
• Alívio por entender que as dificuldades não eram culpa pessoal;
• Ferramentas para construir uma rotina que respeite seu próprio ritmo.

Como Lidar com o Diagnóstico e Criar uma Vida Mais Leve?

A partir do momento em que se entende que se é autista, é possível adotar estratégias para tornar a rotina mais confortável e menos desgastante.

1. Terapia e Autoconhecimento

A terapia pode ajudar a lidar com a sobrecarga emocional e a desenvolver estratégias para tornar as interações sociais menos exaustivas. A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é uma abordagem eficaz para esse processo.

2. Criar Rotinas que Fazem Sentido

Estabelecer horários fixos para as principais atividades do dia pode ajudar a reduzir a ansiedade e trazer mais previsibilidade ao dia a dia.

3. Comunicação Clara e Autoaceitação

Aprender a expressar suas necessidades e estabelecer limites é essencial. Saber que não há problema em ser diferente permite que as interações sejam mais autênticas.

4. Encontrar Uma Comunidade de Apoio

Conectar-se com outras mulheres autistas pode trazer um sentimento de pertencimento e compreensão, além de ser uma fonte valiosa de troca de experiências.

O autismo feminino ainda é pouco compreendido, mas aos poucos mais mulheres têm encontrado respostas para questões que carregaram a vida toda. O Dr. Bruno destaca que entender e aceitar essa condição é um caminho poderoso para viver com mais autenticidade, sem a necessidade constante de se encaixar em moldes que não fazem sentido. Afinal, cada pessoa tem um jeito único de enxergar o mundo – e isso deve ser celebrado.