Quando ouvimos falar em TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade), a imagem mais comum é de uma criança inquieta, geralmente um menino, que não consegue se concentrar na aula. Mas e as meninas? E as mulheres que vivem anos tentando entender por que tudo parece tão caótico? O Dr. Bruno, especialista em saúde mental, nos ajuda a entender como o TDAH afeta as mulheres e por que tantas passam despercebidas pelo sistema de saúde.
Por que o TDAH em mulheres passa despercebido?
Por décadas, o TDAH foi estudado e diagnosticado principalmente em meninos. Isso porque os sintomas mais óbvios, como hiperatividade e impulsividade, são mais fáceis de identificar. Nas meninas, o transtorno aparece de forma mais sutil, muitas vezes mascarado por comportamentos socialmente aceitos, como ser “quieta” ou “distraída”.
“Enquanto os meninos geralmente mostram comportamentos que chamam atenção, as meninas internalizam os sintomas. Isso faz com que elas não sejam vistas como portadoras de TDAH, mas como ‘desatentas’ ou ‘desorganizadas'”, explica o Dr. Bruno.
Os sintomas mais comuns em mulheres
Em mulheres, o TDAH tende a aparecer de forma diferente:
- Distração constante: É aquela sensação de “estar no mundo da lua”, mesmo nas situações mais importantes.
- Esquecimentos frequentes: Compromissos, chaves, detalhes do trabalho… tudo parece escapar.
- Procrastinação: Tarefas acumuladas e sensação de nunca dar conta de tudo.
- Exaustão emocional: O esforço de “parecer funcional” muitas vezes leva ao esgotamento.
“Muitas mulheres nem percebem que têm TDAH porque estão acostumadas a viver no piloto automático, lutando para acompanhar o ritmo do dia a dia”, ressalta o Dr. Bruno.
O papel dos estereótipos no diagnóstico tardio
A pressão social sobre as mulheres, que precisam ser multitarefas e organizadas, contribui para que o TDAH passe despercebido. Desde cedo, meninas são ensinadas a ser “boas alunas”, “comportadas” e “responsáveis”. Quando falham em atender a essas expectativas, a culpa geralmente recai sobre elas, como se fosse uma questão de esforço.
“Essa pressão social faz com que muitas mulheres internalizem os sintomas e se sintam insuficientes. Elas acreditam que o problema é delas, não do TDAH”, destaca o especialista.
Diagnóstico tardio: O que isso significa?
Muitas mulheres só descobrem que têm TDAH na vida adulta, quando já acumulam anos de frustração. Isso afeta diversas áreas da vida:
- Na escola: Dificuldades de concentração e organização que eram vistas como falta de empenho.
- No trabalho: Problemas em cumprir prazos ou lidar com tarefas complexas.
- Nos relacionamentos: Sentimentos de culpa e frustração, que podem causar conflitos.
“O diagnóstico tardio é comum porque, na infância, os sintomas costumam ser atribuídos a distração ou timidez, enquanto na vida adulta, se confundem com ansiedade ou depressão”, explica o Dr. Bruno.
Tratamento: O que muda para as mulheres?
O tratamento para o TDAH é eficaz, mas precisa levar em conta as particularidades do gênero, especialmente porque fatores hormonais têm grande impacto na manifestação dos sintomas.
1. Medicamentos adaptados
O uso de medicamentos, como estimulantes, é uma base importante do tratamento. No entanto, em mulheres, ajustes podem ser necessários em diferentes fases da vida:
- Durante o ciclo menstrual: Algumas mulheres relatam aumento dos sintomas em certos períodos, exigindo adaptações.
- Na gravidez e menopausa: As mudanças hormonais podem afetar a eficácia dos medicamentos e exigir acompanhamento mais próximo.
2. Terapia comportamental
Além da medicação, a terapia é fundamental para ajudar mulheres com TDAH a desenvolverem estratégias práticas.
- Planejamento diário: Aprender a organizar tarefas e reduzir a sobrecarga mental.
- Aceitação pessoal: Trabalhar o perfeccionismo e a autocrítica.
- Habilidades sociais: Melhorar a comunicação e os relacionamentos.
“A terapia é um espaço onde a paciente aprende a lidar com os desafios sem se culpar, entendendo suas limitações e potencialidades”, reforça o Dr. Bruno.
O impacto do TDAH não tratado
Quando o TDAH não é tratado, as consequências podem ser profundas e afetar várias áreas da vida de uma mulher:
1. Saúde mental
Mulheres com TDAH não diagnosticado muitas vezes desenvolvem ansiedade e depressão. A sensação de estar sempre “falhando” pode ser esmagadora.
“Tratar o TDAH não é apenas aliviar os sintomas, mas prevenir complicações secundárias que prejudicam ainda mais a qualidade de vida”, explica o especialista.
2. Vida profissional
No trabalho, mulheres com TDAH frequentemente enfrentam dificuldades em gerenciar o tempo e lidar com demandas multitarefas. Isso pode limitar o crescimento profissional e causar insatisfação.
- Procrastinação: Tarefas são adiadas até o último minuto.
- Falta de foco: Dificuldade em manter a produtividade durante o dia.
3. Relacionamentos
O TDAH também afeta os relacionamentos pessoais. A dificuldade de organizar pensamentos ou lembrar compromissos pode gerar conflitos e incompreensões com parceiros, amigos e familiares.
“Quando há compreensão e tratamento, os relacionamentos melhoram significativamente, porque a mulher aprende a lidar com os desafios de forma mais leve”, aponta o Dr. Bruno.
O que esperar para o futuro?
Com o aumento da conscientização, mais mulheres estão sendo diagnosticadas corretamente e recebendo o suporte que precisam. Estudos recentes estão ajudando a entender melhor como o TDAH afeta cada gênero, permitindo tratamentos mais personalizados.
“O mais importante é que as mulheres saibam que não estão sozinhas. Com diagnóstico e tratamento adequados, elas podem viver plenamente e aproveitar todo o seu potencial”, conclui o Dr. Bruno.