Durante as últimas décadas, vemos com preocupação o número crescente de diagnósticos de depressão em meninos e meninas. Vários relatórios demonstram que essa tendência vinha aumentando inclusive antes do início da atual pandemia. De 2016 a 2019, por exemplo, houve um aumento de aproximadamente 24% nos casos de depressão juvenil, segundo um levantamento conduzido pela Universidade de Georgetown. Essa elevação é resultante de diversos aspectos, dentre eles alterações sociais, maior exigência acadêmica e dificuldades em se adaptar às novas realidades tecnológicas e sociais.
A situação piorou drasticamente devido à chegada da pandemia. O distanciamento social, as mudanças constantes nas rotinas escolares e o aumento do stress familiar e online geraram um grande impacto negativo sobre a saúde mental dessa população. Pesquisas recentes indicam que há uma ligação direta entre o aumento da depressão e questões como o tempo excessivo passado em redes sociais, a exposição a materiais prejudiciais e a diminuição dos contatos cara-a-cara. Adicionalmente, a escassez de serviços de saúde mental efetivos e acessíveis nas escolas e comunidades, particularmente nas regiões de baixa renda, está privando muitos jovens de assistência crucial, tornando ainda mais urgente a implementação de soluções eficazes e disponíveis para todos.
O que você sabe sobre depressão em crianças e adolescentes?
A inquietude sobre a depressão em meninos e jovens está em ascensão, e os sintomas podem influenciar negativamente o seu bem-estar emocional, social e escolar. Essa condição pode apresentar-se de maneira variada em jovens, através de alterações no humor, irritabilidade, perda de interesse em passatempos, assim como por meio de sintomas corporais, tais como dor de cabeça. Investigações demonstraram um aumento da incidência de depressão em adolescentes ao longo dos últimos anos, ponderando a relevância de abordagens preventivas antecipadas para evitar consequências adversas graves, inclusive o potencial risco de comportamento suicida. Os métodos de tratamento comprovados compreendem terapias psicológicas, exemplificadas pela Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), sendo indicado, em determinados casos, o emprego de antidepressivos particulares autorizados nesta faixa etária, nomeadamente a Fluoxetina e o Escitalopram.
Resulta fundamental que o processo de diagnóstico e terapêutica seja iniciado o mais brevemente possível, visto que a depressão sem tratar poder interferir no desenvolvimento social e educacional. Além das medidas clínicas, a disposição de assistência emocional, quer em contexto escolar, quer doméstico, reveste importância crucial. Recentemente, foi sublinhada a significativa contribuição dos serviços de saúde mental disponibilizados nas escolas; todavia, igualmente salientou-se a discrepância na distribuição desses recursos, impactando adversamente os jovens residentes em zonas menos privilegiadas.
Você acha que a depressão infantil é um problema sério? Por quê?
Sim, a depressão em idade pediátrica é uma questão muito grave que requer atenção imediata. Pesquisas mostram que a depressão em crianças não é passageira ou simplesmente uma fase, mas sim uma condição clinica que pode ter um grande impacto no desenvolvimento emocional, social e acadêmico deles. Se não for tratada apropriadamente, essa condição pode resultar em consequências graves e duradouras, tais como dificuldades nos relacionamentos, problemas de aprendizado e um maior risco de reincidência de depressão no futuro. Crianças depressivas frequentemente exibem sinais como irritabilidade, tristeza constante e dores físicas inexplicáveis, os quais podem ser confundidos com outras patologias, retardando assim o diagnostico e o tratamento adequados.
Além disso, e talvez igualmente relevante, é o fato de que a depressão pediátrica serve como fator de risco para o surgimento de outras condições mentais ao longo da vida, como por exemplo ansiedade e disturbo de conduta. Em casos mais graves, a falta de tratamento também pode provocar um aumento considerável no risco de tendencias suicidas entre adolescentes. Detectar a depressão em estagio precoce e instituir um plano de tratamento (que pode envolver psicoterapia e, em certos casos, medicações) são elementos chave para oferecer um melhor ambiente aos jovens afetados e promover uma vida adulta mais balanceada. Os cuidadores e familiares tem também um papel crucial neste processo, visto que seu compromisso contribuirá significativamente para garantir que a criança tenha todo o apoio necessário durante este período défice.
Na sua opinião, quais são as principais causas da depressão em crianças e adolescentes?
A depressão em crianças e adolescentes pode ser resultado de diversos fatores, envolvendo aspectos biológicos, psicológicos e sociais. Um dos principais fatores associados à depressão nessa faixa etária tem origem na hereditariedade e no contexto familiar, sendo mais provável em indivíduos com parentes próximos que já tenham experimentado esta condição. Além disso, alterações hormonais e discrepâncias nos transmissores cerebrais, incluindo neurotransmissões, têm um papel crucial no aparecimento da depressão. Experiências negativas, como trauma infantil – seja ele físico ou emocional – assim como vivências adversas, tal qual a morte de alguém próximo ou maus tratos, podem aumentar as chances de desenvolvimento dessa doença durante a adolescência.
Da mesma forma, questões relacionadas ao meio social possuem grande influência sobre a emergência da depressão. Por exemplo, situações de intimidação escolar, dificuldades de aprendizagem, baixo índice de autoestima e conflitos interpessoais constituem importantes gatilhos. Outros contribuintes relevantes consistem nas demandas e pressões tanto sociais quanto acadêmicas, nos impactos decorrentes das redes sociais, bem como na inexistência de assistência emocional adequada. Quando combinados com fatores adicionais – como dependência de substâncias, ambientes familiares instáveis e modificações drásticas no estilo de vida –, todos eles poderiam configurar um ambiente favorável ao surgimento da depressão. Assim, torna-se fundamental que pais e professores prestem atenção a esses indicadores e disponibilizem auxílio necessário para evitar consequências graves.
Como você acha que as redes sociais e a tecnologia influenciam a saúde mental dos jovens?
As plataformas online e a tecnologia exercem uma forte e intrincada influência sobre a saúde mental dos jovens. De um lado, esses ambientes digitais proporcionam uma sensação de união e inclusão, possibilitando que os adolescentes estabeleçam ligações com indivíduos de interesses parecidos e partilhem suas vivências. Contudo, os aspectos negativos são igualmente visíveis. Um emprego excessivo destas plataformas virtuais, particularmente acima de três horas diariamente, mostra-se ligado a um crescimento importante no risco de questões de saúde mental, incluindo a depressão e a ansiedade. Isto acontece sobretudo em função da continua exposição a imagens e materiais idealistas que torcem a compreensão do corpo e da existência, gerando comparações adversas e a diminuição da autoconfiança. Adicionalmente, mecanismos de rede social podem incentivar materiais prejudiciais, tal como assuntos correlatos ao automutilação e transtornos alimentares, piorando ainda mais a condição de jovens susceptíveis.
Uma outra área preocupante diz respeito ao efeito da tecnologia sobre os hábitos de sono e as trocas sociais entre adolescentes. Uma exposição frequente às telas, especificamente antes do descanso, tem sido vinculada a dificuldades de sono, o que pode intensificar os indicadores de angústia e depressão. Além disso, o período dedicado às redes sociais frequentemente supõe atividades socioeducativas positivas e presentes, como desportos ou passatempos, isolando os jovens e limitando a qualidade das interações verdadeiras. Assim sendo, apesar dos privilégios da tecnologia, resulta fundamental que famílias, instituições educacionais e a coletividade em geral propiciem um consumo moderado e reflexivo destas ferramentas para minimizar os efeitos adversos.
Conheça o Dr. Bruno Oliveira
O Dr. Bruno Oliveira de Paulo é um psiquiatra dedicado à promoção da saúde mental, com uma abordagem centrada na empatia e no acolhimento. Formado pela Universidade Federal de Uberlândia, onde desenvolveu suas bases acadêmicas e humanas, ele continuou sua formação em Psiquiatria no renomado HCFMRP – USP. Durante sua residência, teve a oportunidade de ampliar sua compreensão sobre a complexidade dos transtornos mentais, aprendendo diretamente com as histórias e vivências de seus pacientes.
Com um profundo compromisso em ajudar cada paciente a alcançar um equilíbrio emocional saudável, o Dr. Bruno acredita que o tratamento da saúde mental deve ser individualizado e humanizado. Desde o primeiro contato, ele busca oferecer um ambiente seguro e acolhedor, onde o paciente se sinta verdadeiramente cuidado. Sua prática é orientada pela escuta ativa e pelo desejo genuíno de contribuir para o bem-estar mental de cada pessoa que confia em seu trabalho.